Notas sobre o Ayom (1): O Ayom

Ayom ─ Orixá da música e dos tambores
Ayom ─ Orixá da música e dos tambores (Fonte: O Autor)
Por Me. Obashanan

Do seio de Olodumaré, dentro do Orún, estão os Imolés (LUZ, BRILHANTE) do qual emanam 400 consciências denominadas de direita, os Irùnmòlés, que significa “Concebidos com a luz do Orún”, espíritos que não nasceram e nem morreram na Terra, pois são fonte original da luz espiritual. Também emanam 201 consciências da esquerda chamadas Igbàmòlé, que significa “Os que guardam a luz” (Ìgbá – Cabaça, enquanto substantivo; enquanto numeral, significa 200). Estes espíritos foram responsáveis diretos pela implantação da evolução em nosso planeta e pelo despertar da humanidade, rumo à civilização. São tradutores dos Irunmolés e são mais conhecidos como Orixás e Eboras. Dentre eles estão Exu, Xangô, Obaluaiê, Ossain, Yemanjá, Oyá, etc…

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Ayom representado em um tambor nigeriano (Fonte: O Autor)

Na primeira categoria, dos Irunmalés, muitos deles, por surgirem de dentro da luz de Olorun foram chamados de “FUN FUN”, os Senhores do Branco e são potestades extremamente antigas, a maior parte quase esquecidas. Oxalá é o mais conhecido dentre eles, mas existem muitos outros, praticamente desconhecidos no Brasil. Dentre eles podemos citar Irawó (as estrelas), Oshupá (A lua), Agba Lodé (A imensidade do espaço) e em especial o AYOM POOLO, o Senhor da Música.

Um desses “FUN FUN”, chamado Órúnmílà (que se traduz como “Só o céu conhece os que se salvaram”), é considerado o primeiro profeta que passou pela Terra para trazer os ensinamentos de Olodumaré. Trouxe o conhecimento cósmico, através da Antiga Sabedoria de Ifá, que descreve, num de seus textos, as origens dos primeiros momentos do Universo, o despertar da Gênese por intermédio do AYOM, o Movimento Pontual, a Eternidade no Momento, as Eras, ou o Eterno Sacrifício. Conhecido em várias culturas com praticamente o mesmo nome (Ayom ou Aña para os sudaneses, Mooyo para os Bantu, Y-Om Ahed para os Judeus, Aum para os Hindus, Eon para os gregos, etc), o Ayom é a potestade que encerra alguns dos maiores mistérios da profunda Iniciação, pois está ligada a praticamente todo o sistema de equilíbrio das divindades, estando presente no começo e no fim do mundo, atuando na ritualística de todos os orixás.

É o espírito da Música e segundo os mitos antigos, morava dentro do tambor no princípio dos tempos. Quando os homens começaram a fazer a guerra, foi libertado por Xangô, que utilizando seu machado, cortou os tambores batá (antigos tambores de duas peles, ainda usados em alguns cultos) ao meio, fazendo surgir os tambores de uma só pele. O Ayom é a entidade que ensinou os homens a falar, a cantar e a preservar e viver a música como fonte de equilíbrio e estabilidade. Por isso hoje, os raros sacerdotes iniciados nos mistérios do Ayom firmam sua força através de um saquinho ou uma cabaça, preenchidos com seus fundamentos que fica fixado dentro ou fora do tambor, o qual produz um som peculiar quando se choca com as paredes do casco. Um tambor bem preparado é um verdadeiro ser vivo, e quase sempre o espírito do Ayom quando se manifesta nele, induz o Alabê a executar ritmos extremamente hipnóticos e complexos, pois os tambores chegam a “falar” sozinhos.

Otun Alabê com um Ilú Batá consagrado à Ayom (Fonte: O Autor)
Otun Alabê com um Ilú Batá consagrado à Ayom (Fonte: O Autor)

O preparo de um tambor para Ayom requer muitos cuidados dentro da magia, pois desde a construção até a preparação, são utilizados diversos materiais para a consagração, que vão do azeite ao mel, elementos de alguns peixes e resinas de árvores. Um especial cuidado com as tiras que prendem o couro, com elementos diferenciados e polêmicos são indispensáveis. Normalmente afina-se os tambores próximos a nota Lá. Os fundamentos do Ayom são conhecimentos que estão praticamente perdidos e são raríssimos no Brasil os iniciados nestes mistérios…

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