A Grande Gira Cósmica (2)

(Fonte: http://estrelaverde.org)
(Fonte: http://estrelaverde.org)
Por Me. Obashanan

A Antiga Sabedoria um dia nasceu de uma explosão do amor de Deus pelos espíritos de sua semelhança e até hoje, todos os átomos da “criação” e além, vibram numa voz em uníssono que se aprofunda mais e mais, repetindo à forma para que esta jamais esqueça a Lei de sua origem: “AUM”… “AUM”…

Naquele instante sagrado, a criança divina, sorrindo à maravilha daquele mantra e obedecendo a lei de sua expressão tornou-se adulto e construiu a partir do rompante de amor em seu peito a estrutura e o alicerce, a vontade de realizar: “BHAN”… “BHAN”… era o segundo verbo da verdade.

“DHAN”… foi a maturidade, a compreensão e o raciocínio. A Lei estabilizada e consagrada na paz existente na manutenção de toda a vida. O AUMBHANDHAN, a Lei Máter regente do Universo, foi revelada ao homem em sua pequenez para que este pudesse entender tudo que o cerca. A Ciência, a Filosofia, a Arte e a Religião, revelações dos mundos interiores e exteriores, obedecem ao que está em cima e mesmo assim nos julgamos erroneamente capacitados a entender a profundidade e a interconexão destas realidades. Onde está uma sem a outra? onde estamos nós? que faríamos sem estes mecanismos de compreensão? a Corrente Astral de Umbanda ensina o caminho doutrinando: pureza, simplicidade e humildade. Tudo isso é Criança, Caboclo e Pai Velho. A própria vida mostra a trilha para a iluminação interior, pois na Umbanda, não há remédio sem trabalho. Estes mentores, sem ilusões de fórmulas mágicas, nos mostram com seus exemplos o que temos de fazer para atingirmos plenitude e felicidade.

Passam aos nossos olhos toda a nossa vida: o que deveríamos ter sido, o que deveríamos ser na atualidade e o que poderíamos ser se respeitássemos a Lei que existe em nós. Aliados da preguiça, esperamos sempre os acontecimentos dificilmente nos predispondo a movimentar e a tomar o rumo e prumo de nossas próprias existências. A Umbanda e seus mentores ensinam e mostram àqueles que procuram seus terreiros como fazer e acontecer;  Jamais colocam alguém debaixo da ilusão de promessas e/ou afagos disfarçados de caridade, que, quando muito, acomodam o indivíduo em sua indecisão e inércia. A verdadeira caridade é ensinar a fazer o pão e não dá-lo de graça com enganosos e daninhos sorrisos e tapinhas nas costas que atrapalham e mantém muitos irmãos nas sarjetas…

As Crianças de Umbanda são testemunhas de todo nascimento e de toda ação primeira rumo à vontade. Senhores da beleza espiritual, conhecem em essência a ferramenta do resgate das almas: o amor sublime dos pares que dão vida ao cosmos e a realidade, pois tudo existe pelo amor e tudo se move por ele e em sua direção. Tais seres engendram em nosso espírito – quando consegue-se captar a importância de sua ação nos terreiros – a felicidade de se respirar novamente os ares dos primeiros arcanos impressos no mais longínquo de nossa memória. Quando de seus pontos cantados de raíz, o espírito percebe e sente com intensidade aquele primeiro momento de nossa pureza perdida; lembrando-nos o ângulo mais direto da atuação destas entidades: trabalham mais com o sentimento, equilibrando o corpo astral dos consulentes.

Não enxergando os véus atrás do mito, não nos apercebemos da sutileza destas entidades quando sintetizam em 3 princípios o tudo, em sua geometria sagrada. Nos dizem Cosme, Damião, Doum… Deixam em todos a semente da origem. Alguns os identificarão tão somente com os santos médicos do catolicismo atados pelo sincretismo ao Idolu/Idosu dos Ibeji africanos, mal pronunciados. Não mostram à massa o mistério maior do “COSMOS E DAIMON” – Plenitude (amor) e Sabedoria – unidos e originando o “DOUM” o “AD-AUM”.

O “AUM” e o “DA”, ou “DHAN”, ou seja, o símbolo tão conhecido pelos alquimistas como Ourobouros, a cobra que morde o próprio rabo, ícone do infinito, ou a lei que se encerra em si mesma. O “AUM” – a criança, unido ao “DHAN”- o velho, e completando o ciclo maior da existência: AD-AUM – a Lei de Deus. Lembramos aos que estão ligados aos cultos de Nação e mesmo aos esoteristas e ocultistas, que o Ourobouros está intimamente ligado ao Oxumarê dos Nagô. Oxumarê, nos mitos tido como um Orixá dual, o primeiro babalawô, era representado seis meses como cobra, quando feminino, e seis meses como arco-íris, quando masculino. Os iniciandos destes cultos e mesmo seus sacerdotes seguem a risca tais mitos sem traduzi-los à luz dos arcanos da primeira Kabala, que para eles foi perdida. A Corrente astral de Umbanda nos ensina que o mito vela a verdade e todo e qualquer mito pode ser interpretado corretamente sendo o conhecimento desta interpretação as chaves corretas para a verdadeira síntese citada acima, entre a Ciência, a Filosofia, a Arte e a Religião. Pois bem, Oxumarê, ou mais acertadamente Osho-Marê, traduz-se como o Mago da Divindade, ou, o cumprimento das leis divinas. Mas ainda, o Dhanbala dos Gêge, igualmente representado pela cobra – a eternidade – traduz-se exatamente como o conjunto das leis divinas, pois: Dhan – conjunto; Ba- lei ou regra; La, ou Al- Deus, divindade.

Sabemos serem poucos os que compreenderão as maravilhas expressas na Lei do Verbo – a Kabala de Umbanda – mas temos certeza de que estas linhas atingirão o âmago espiritual de cada irmão, plantando a semente de uma realidade eterna que, infelizmente, ainda não se manifestou aos sentidos mais objetivos do conhecimento.  Caboclo, Pai Velho e Criança são a própria Lei expressa e consagrada dos quais somente nosso espírito guarda a lembrança.  A mística de uma Tenda de Umbanda nos atrai exatamente por esta deliciosa recordação. Como se fosse a chance última de rever-nos frente a frente com tudo que foi esquecido ou perdido num distante passado. E não exageramos quando dizemos serem todas as perdas e falhas em nossas existências decorrentes de uma primeira dúvida, de um primeiro deslize, que tal como o número se multiplicou ao infinito se transformando, mutável e maleável, no eterno titubear da não-decisão.

Decidir! Decidir! nos diz em silêncio o Caboclo quando atuando positivamente em médiuns que dão condições ás suas manifestações de fortaleza, de energia, da força cósmica e suprema que move os mundos, incitando a serpente mística a morder a própria cauda. Descobrir-se e levar os princípios até o fim, a procura das causas, eis a Lei da evolução, da transformação e da permanência… há muito o que descobrir e há muito pelo que viver.

Esta forma de apresentação sintetizada em suas cinco Linhas: Orixalá, Ogum, Oxossi, Xangô e Yemanjá (todos os Mentores sob estas Linhas se apresentam na roupagem fluídica de Caboclos) velam o pentagrama sagrado, símbolo do movimento e da matéria. Em seu sentido mais básico, representando o próprio homem . Realmente estas entidades trabalham mais diretamente auxiliando o complexo Etéreo-físico dos consulentes.

O significado do movimento encerrado neste símbolo é um dos mais altos segredos da Corrente Astral de Umbanda. Dentro do pentagrama estão contidas as chaves da música celeste e talvez seja por isso que os Caboclos se utilizam com tanta frequência dos Mantras e dos assobios, verdadeiros atratores das Linhas de Força ou Tatwas, ao contrário das Crianças e Pais Velhos que estão voltados para uma área de ação mais psicológica de exteriorização e interiorização no tratamento com os consulentes.

Na movimentação de seus sinais, curvos e harmônicos, encontramos a tradução para o mundo das formas, da continuidade do movimento, da dança eterna da pulsação sagrada. Estrelas, planetas, sistemas inteiros, galáxias em suas harmoniosas evoluções seguem o som sagrado desde a infância do Universo, traçando o círculo da Lei, as curvas da inquebrantável força construtora, arquiteta e protetora de todas as formas de vida.

Nossos queridos Pais Velhos, senhores da sabedoria, da humildade e paciência, mostrando-nos caminhos abertos por eles percorridos desde o princípio dos tempos, contam-nos suas experiências alertando a todos sobre a importância de, na medida em que envelhecemos por fora, procurarmos tornarmo-nos jovens por dentro. A velhice não é o fim, é antes o despertar da alma, quando olha o passado e enxerga a criança vindo novamente em nossa direção, trazendo-nos a bendita oportunidade de reconhecermos que a transformação nos aguarda, sempre…

Atuam de forma direta na mente dos consulentes e dos médiuns, verdadeiros psicólogos da alma, encontrando os mais ocultos temores e dando a eles o lenitivo necessário, senão no momento, para o futuro, onde, com certeza, haverá o momento exato de seu uso. Vivenciada a existência após o Ritual, quando vimos a infância, a maturidade e a senilidade passarem sob nossos olhos, há aquele hiato entre as vidas, quando nos encontramos imersos no “desconhecido”. Para a grande maioria dos homens há o medo da escuridão (interior) e para todos os homens há o período de gestação antes da próxima encarnação, quando não se é nem criança, nem adulto e nem velho, ou se é os três ao mesmo tempo.

É nesta hora que Exu vem, para romper a dura casca do ovo formado por nossas ilusões. Frente a uma nova realidade, é Exu quem nos mostra o caminho a ser seguido, iluminando as trevas de nosso eu conturbado. Misteriosas, estas entidades deixam-nos “hipnotizadas” com sua sagacidade. Muitos os temem por serem eles, teoricamente, os mais próximos, os mais ligados ao imediatismo de nossas vidas, que talvez escondam fatos inconfessáveis. Em realidade esses aferem e complementam o trabalho iniciado pelas outras entidades que, após ajustarem a mente (campo mental), o sentimento (campo astral) e a ação (campo etéreo-físico), deixam para os Guardiões a tarefa de redimensionarem o que foi girado, propiciando aos consulentes e mesmo aos médiuns a plena REALIZAÇÃO de suas vidas, preparando ainda o embrião para a próxima existência, ou para o próximo ciclo de vida, seja do ser humano, do Ritual de Umbanda ou do próprio Universo.

Em sucintas palavras, tentei definir um pouco do que se esconde por trás de uma simples Gira ou Ritual de Umbanda, mais precisamente uma Gira externa de caridade, entretanto, o que visa resgatar uma Gira em si? Mais diretamente, além de nossa identidade perdida em meio aos mais variados e estranhos problemas? A Tradição, claro… Mas por que desta forma ?

Por que a Umbanda não se utiliza de cultos e rituais semelhantes a outras religiões tradicionais? acreditamos ser a Umbanda portadora de rituais únicos, nada semelhantes a qualquer outras religiões, apesar de muitos insistirem ser ela uma “colcha de retalhos”…

Ora, um olhar rápido, embora minucioso, sobre os cultos exteriores nos dão a resposta: o ser humano, na sede de descobrir a si mesmo e a Seu Deus, primeiro tem consciência de si, depois irá procurar sua origem. Na procura de sua gênese irá de encontro, inicialmente, àqueles que vieram imediatamente antes dele, ou seja, seus pais, seus avós, bisavós, enfim, seus antepassados…

O processo de conhecer a própria raiz é dificultada pelas limitações inerentes a nossa natureza: não temos acesso sequer às nossas realidades mais simples, obscurecidos que somos pela matéria, quanto mais às realidades Divinas, seus Arcanos e Mistérios, Erós e Awôs, praticamente ininteligíveis a nossa limitação cerebral. Pequenos, destruímos nosso lar, nosso semelhante, nosso planeta, e a nós mesmos. Como ousamos dizer: “Conheço a Deus”, quando nos encontramos, em vários momentos de nossas vidas possuídos pelo ódio, pela vingança, pela futilidade e pelo medo?

O Senhor dos Espíritos nunca nos abandonou, nós é que nos afastamos de sua presença devido a má utilização de nosso livre arbítrio. Envia até nós, através da Hierarquia Divina, seus representantes diretos e que se apresentam na Umbanda como Caboclos, Pais Velhos e Crianças. O que pretendemos dizer é: o culto que deveria ser mais fechado por ser mais sublime é exatamente o culto à Divindade. Os cultos mais puros e mais objetivos, infelizmente hoje em dia mal compreendidos, são os cultos aos ancestrais, onde eles vem até seus descendentes através da mediunidade.

Ao instituir-se um culto a Divindade, houve a massificação de Deus. Este foi transformado em algo comum, corriqueiro e esquecível. O Culto Exterior a Divindade resultou em tediosos ritos religiosos onde sonoros bocejos são ouvidos junto a leituras desatentas e despreocupadas de livros sagrados. Perdeu-se o mistério e a beleza do desconhecido…

Perdeu-se a Kabala pois tudo tornou-se mais fácil; não há mais enigma, não há mais metafísica, sendo todo e qualquer estudo nesse sentido considerado primitivo ou demoníaco. Além de existirem, também, aqueles que apesar de possuírem um alto nível intelectual não passam de parvos completos. Estas duas qualidades não se excluem e a observação e a experiência são a prova irrefutável dessa verdade. Preferem a letra morta ao espírito que vivifica. Na verdade, para muitos, a grande maioria, resta o vazio, a desesperança, pois atam-se a Deus procurando alento e encontram produtos. Acreditam mais pelo medo do castigo do que pela fé. Em vez de serem livres prendem-se mais e mais a algo invisível que mostra-se juiz implacável e tirano, sem misericórdia e sem bondade. Ou então fingem acreditar para que não percam o meio social em que vivem, temerosos de serem renegados em sua coletividade, pois nessas mentes não é o “status” mais importante que o bem estar do espírito ? Escancaram o mais sublime e o homem, já não humilde, não se dirige a Divindade para pedir ou agradecer mas para exigir, pois, tudo em sua vida agora parece mais fácil e como qualquer produto, também, exige ter um Deus ao seu lado, a custo de compra ou de troca. Quando o desespero toma conta e não há mais controle surge o terreirinho de Umbanda no caminho desses irmãos. Devagar, com alegria, simplicidade e humildade, Criança, Caboclo e Pai Velho trazem de volta, através de suas mensagens, aquilo que os espíritos enfastiados do vazio não conhecem mais: compreensão e sinceridade.

Então, frente a frente com seu Ancestral (aquele que sabe do bem e do mal de um mundo que conheceu antes de nós) pedem, e eles, mais próximos que estão da Luz Divina, que retornaram para auxiliar seus irmãos mais tímidos, mostram que apesar de filhos do Céu, também são irmãos da Terra e respondem ao pedido num canto sagrado: “Quem precisa pede favor… pede a Zamby… que Zamby dá…”.

Deixe um comentário