Biage-Ifá: O Oráculo de Biage

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(Fonte: Google Imagens)
Por Aralotum

“Havia um adivinho chamado Ifabiage. Ele tinha um filho chamado Adiatoto, a quem ensinara seu maior Awo (segredo), a arte de atirar os obis para a divinação. Na casa de Biage havia outros meninos, crianças que o obedeciam como pai e que ele considerava como seus próprios filhos. Todos se tinham como irmãos, mas Adiatoto, que era o mais novo, era seu único filho verdadeiro.

Quando Biage morreu, todos aqueles filhos adotivos lhe roubaram tudo o quanto tinha, e seu filho, Adiatoto, ficou passando dificuldades. Tempos depois, o Obá, Rei do Povo, quis averiguar a quem pertencia aqueles terrenos e mandou consultar por seus donos. Apareceram muitos supostos donos, os filhos adotivos declararam que os terreno lhes pertenciam, mas não tinham prova que os creditassem e que constituía o segredo. O Rei se viu obrigado a publicar através de seus porta-vozes o direito que tinha quem apresentasse as provas.

Adiatoto teve notícias de que o andavam procurando. Ao apresentar-se pediram-lhe as provas, e como somente ele era o único que sabia, porque seu pai o havia ensinado, disse: “─ Isso é meu. Irei aos muros que dividem as terras e atirarei os obis ao chão, se caírem de boca para cima, essa é a prova que meu pai ensinou.” Assim foi, ao atirar os cocos, todos responderam com Aláfia, então o Rei fez entregar para ele todos os terrenos que foram usurpados pelos falsos filhos de Biage.”

(Odu Ose-Irete)

O Biage-Ifá é consultado através de quatro objetos, a princípio, pedaços de obis de quatro gomos. Mas, também, pode ser aplicado o mesmo método mas com outros objetos, que possuem um lado côncavo e outro convexo, representando um aberto e outro fechado. Comumente usa-se búzios ou pedaços de côco (em Cuba). A sorte é tirada lançando-os sobre o chão ou um tabuleiro de madeira.

O Oráculo de Biage constitui um método prático e rápido de adivinhação, porém, muito profundo em essência. A sua simplicidade esconde vários mistérios. E embora seus fundamentos sejam pouco conhecidos no Brasil, onde é utilizado apenas para fins de confirmação, o Biage-Ifá é rico em possibilidades e compõe-se de vários métodos que variam em grau de complexidade. Dessa forma, pode ser usado tando para obter respostas e soluções rápidas para assuntos cotidianos, como respostas mais complexas e elaboradas, com soluções para os mais diversos tipos de problemas.

Pois bem! Por ser Awò (segredo), não podemos revelar certas informações, mas dentro daquilo que nos é permitido vamos desbravando o universo de um dos sistemas mais antigos de magia oracular, e que serve de base para muitos outros. Então, vou citar, sucintamente, sobre cada uma das 5 caídas básicas do jogo:

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Aláfia – 4 abertos

Aláfia é a expressão máxima da positividade, significa alegria.

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Otawa – 3 abertos e 1 fechado

Otawa responde positivamente, porém sugere que há algo em haver ou que se faça algo para alcançar o que deseja. Indica que terá que desprender certo esforço.

Sem título3
Ejifé – 2 abertos e 2 fechados

Dentre todas as caídas, essa é a mais segura. Indica segurança e equilíbrio, que tudo está bem, tudo como deveria estar e confirma como certa qualquer jogada anterior.

Sem título4
Okanasodé – 1 aberto e 3 fechados

Okanasodé responde negativamente, é um presságio ruim. Indica decadência ou que o fim de um ciclo está próximo.

Sem título5
Oyeku – 4 fechados

Oyeku é a expressão máxima da negatividade, é um presságio de morte, encerramento ou o final de um ciclo.

Cada uma dessas caídas ainda pode ser interpretada de 16 de formas diferentes, somando um total de 80 possibilidades ou caídas, de acordo com a figura que formar quando cair. Essas figuras chamam Apere e representam as características das 16 divindades principais (segundo o método cubano) e tem relação direta com os 16 Odús principais de Ifá. Ainda assim, é possível tirar os Odús por pelo menos dois métodos.

Dentro das tradições que vieram da África para o Brasil, o Biage-Ifá está presente em todos os sistemas, praticamente. O jogo de búzios é feito com 21 conchas, usa-se 16 (Mérìndilogún) para tirar os Odús ─ cada búzio representando um Odú ─ e 5 são separados para fins de confirmação ─ cada búzios representando uma caída do Biage ─ e ficam fora do tabuleiro, usa-se quatro para a consulta e o outro faz parte de um Awo maior.

No método do Opon-Ifá africano usa-se, comumente, 16 Ikins (coquinhos de dendê) para tirar os Odús. Algumas famílias do culto Ifá usam 21 Ikins, juntos ou separados, para a consulta. A lógica do sistema é a mesma do jogo de búzios, ainda que o método de tiragem dos Odús seja característico desse sistema.

Com o Opon-Ifá na Umbanda Esotérica, é feito o uso de 21 avelãs ou ikins marcados com os sinais próprios, representando os 16 Orixás principais e seus significados, segundo a sua própria doutrina. Eles são relativos aos 16 Odús africanos. As outras 5 avelãs ou ikins são chamados de Abira e destacam-se por sua relação e semelhança com as caídas do Biage. De tal modo que o tabuleiro, que é dividido em 16 partes, fornece 80 possibilidades de interpretação para o conjunto de Abira, da mesma forma que as caídas do Biage-Ifá e seus Apere.

Existe, ainda, relações do Biage-Ifá com outros sistemas oraculares baseados em métodos cabalísticos, que não convém revelar, como a geomancia, o tarô e o jogo de cartas. Ifá, em sí, é a Voz do Criador, é o Verbo Divino, e, sendo a expressão da Vontade Divina, é notável através de várias formas e meios, sistematizados ou não. Cabe ao bom adepto, estudioso e praticante, aprender um meio a ouvir Ifá e seus ensinamentos.

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