A Bíblia Não-Escrita da Umbanda

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(Fonte: Google Imagens)
Por Aralotum

Uma das maiores críticas ao movimento umbandista é sobre o fato que não haver uma doutrina ou código escrito sobre a religião. Dizem, sob este pretexto, que a Umbanda é uma mistura de outras práticas religiosas, não sendo, portanto, uma religião legítima. O fato é que, por preconceito ou desinteresse, pouco compreendem sobre a umbanda e o movimento que deu formação às suas práticas.

A Umbanda não é uma bagunça sem código ou doutrina onde cada um faz o que quer. Umbanda (ou Aumbhandha) é um termo sânscrito que significa Conjunto das Leis Divinas. Entende-se como Leis Divinas o conjunto de regras universais que regem a natureza e a existência material e imaterial.

Logo, compreendemos que a Umbanda é lei, é Lei Divina, lei espiritual em ação, tem regra, tem doutrina. Mas não é um código escrito em letras mortas, é uma doutrina transmitida diretamente pelos espíritos do astral dia após dia, de boca a ouvido, em seus ensinamentos, seus cânticos, seus fundamentos e seus mitos. É, verdadeiramente, a real doutrina dos espíritos, porque é viva!

Então, por que essa “confusão”? Por que os terreiros, centros, tendas, choças e choupanas não seguem um mesmo padrão, um mesmo ritual? Por que em uns terreiros é permitido o uso de tambores e em outros não? Por que uns terreiros é permitido o uso de guias e colares coloridos e em outros não? Por que em uns terreiros é permitido o uso de fumo e bebidas alcoólicas e em outros não? Por que existem tantas variações da umbanda – umbanda branca, traçada, cruzada, omolokô, milongada, de mesa, de caboclo, de preto velho, “umbandomblé”, “umbandec” e etc.? Por quê?

A verdade é que a materialidade nos faz atentar mais para a forma do ritual do que para a presença do astral em si, este é um primeiro ponto. Estamos tão acostumados a discriminar o valor das coisas pela aparência que nem percebemos quando tornamos isso uma verdade absoluta. Isso acontece, principalmente, com o que nos é estranho, com aquilo que não conhecemos ou não faz parte do que praticamos. Em verdade, nesses momentos somos preconceituosos.

A Umbanda surgiu como um movimento de síntese, isto é, capaz de reunir os diferentes pela semelhança – o contato real e verdadeiro com os espíritos do astral, independente da origem étnica e da ancestralidade do ritual. Isso permite que a Umbanda se adeque a realidade de cada grupo, suprindo as necessidades kármicas individuais e coletivas de cada ser humano.

Por isso, em cada região do país – e do mundo – a Umbanda é praticada de uma forma, ainda que com outros nomes. Desde muito antes da formação do movimento umbandista, com o Zélio de Moraes e Caboclo das 7 Encruzilhadas, os espíritos de caboclos, pretos velhos, crianças, exus e encantados já baixavam nas macumbas cariocas, nos candomblés de caboclos, nos candomblés de angola, no catimbó, na jurema e em muitos outros cultos populares do Brasil e da América Latina. Cada um desses grupos tradicionais serve à necessidade espiritual kármica daqueles lhes procuram, ou seja, de uma coletividade afim. Todos tem em comum, porém, a figura do caboclo brasileiro ou o índio latino-americano.

Note que, as necessidades espirituais kármicas de cada coletividade deve ser respeitada. Pois elas estão limitadas pelo resultado das vivências anteriores e pelo grau de consciência dos seus indivíduos. Ou seja, nós vamos encarnar próximos de religiões que possuímos alguma afinidade kármica. E essa relação ainda vai ser regulada pelo nosso nível de consciência. De qualquer forma, é a melhor maneira que cada um tem compreender o espiritual. E é respeitável pela ajuda que presta às várias almas a se encontrarem no caminho, respeitando a crença, os costumes, a história e a cultura de cada povo e de cada pessoa, sem discriminação por suas diferenças.

Talvez isso aconteça para nos mostrar que a linguagem do astral superior é uma só: amor e sabedoria. Que não importa muito a nossa cultura e nem os nossos costumes sociais, porque os mesmos espíritos vão a todos os lugares levar suas mensagens e fazer seus trabalhos, independente das nossas limitações, respeitando-as. Isso mostra, principalmente, que a verdade não está na forma, não está em títulos, não está na aparência, não está na linguagem. A verdade está no astral e não aqui no mundo ilusório das formas e aparências; a verdade está em conjunto com a nossa sinceridade e experiência, aonde temos que vivenciá-la profundamente para compreender o valor da sua existência.

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