O Fenômeno do Transe: Transe Mediúnico

Médium umbandista em transe mediúnico – incorporação (Fonte: Templo Estrela Verde)
Por Aralotum

A mediunidade não é algo fácil de ser compreendida. Primeiro, é preciso aceitá-la para que faça sentido. Como o próprio nome sugere, o médium atua como mediador entre o mundo físico e o mundo astral. Ele não deixa de ser médium quando está fora do seu templo, ele está em contato com seres espirituais de toda sorte, a todo momento. Por isso o médium deve sempre estar em constante vigilância, pois suas afinidades é que ditarão quais serão seus espíritos próximos e familiares.

Isso significa muito, pois como o médium é suscetível a entrar em contatos espirituais positivos, também o é em contatos negativos, mesmo que não queiram. Por sua própria condição de médium, ele é naturalmente procurado por toda sorte de espíritos de desejam se comunicar, necessitam de ajuda ou querem influenciá-lo, se tornando assim um alvo constante de espíritos trevosos, obsessores e perturbadores, que intentam em atrapalhar seu trabalho caritativo. Médiuns iniciantes ou com a mediunidade mal aferida e o fluxo dos chakras desregulado se tornam alvos fáceis e frequentes vítimas que podem ser diagnosticadas com algum tipo de psicose ou transtorno psiquiátrico.

Entretanto, a mediunidade se expressa de várias formas, pois ela é uma condição e não a maneira de como essa condição é exercida. Por isso, a mediunidade é uma via, mas há várias maneiras de como ela pode se manifestar e ser exercida, podemos destacar:

Chico Xavier Psicografando _ Cantinho do Chico
Chico Xavier em transe mediúnico – psicografia (Fonte: Google Imagens)

Psicografia – é quando a mediunidade que se processa através da escrita, podendo ser mecânica – quando o espírito “toma” o mecanismo de escrita da pessoa, no caso, o membro superior – ou intuitiva – quando o espírito transmite intuitivamente ao médium e ele escreve, por assim ser seu próprio estilo.

Incorporação – talvez a mais comum, se processa quando o espírito comunicante age através dos sistemas motores do médium, apossando-se de todo seu sistema fisiológico. O processo, entretanto, não acontece com uma intensidade absoluta, como se o espírito tomasse por completo o corpo do médium e apenas o deixasse inconsciente. Essa é uma questão que traz até certo desconforto no meio espiritualista pois, supostamente, questiona a autenticidade da mensagem transmitia, o que é uma falácia. Mas, numa graduação entre 10 a 80 por cento da consciência, é raro alguém que perde mais do que isso. O fato, por sua vez, não compromete o valor da manifestação.

Vidência – o espírito se manifesta através da visão do médium, ou seja, ele vê o espírito, em seu corpo astral.

Audiência – o espírito de manifesta através da audição do médium, ou seja, ele ouve só espíritos.

Intuição – o espírito atua intuitivamente sobre o médium, irradiando suas mensagens, que são percebidas pelo médium.

Existem muitas outras formas por onde a mediunidade pode ser exercida. Porém, a classificação delas só é necessário para nos facilitar o aprendizado, uma vez que não existe uma regra absoluta para isso. Cada médium trás consigo uma ou mais formas de se conectar com o mundo astral, de modo que isso forme o seu próprio mediunismo, sendo uma manifestação única e particular.

Nem todas as pessoas, entretanto, trazem consigo a condição de médium, assim como nem todo fenômeno mediúnico é potencialmente um transe. É verdade que todas as pessoas estão sujeitas a influências de espíritos astralizados, mas somente aquelas que entram em contato direto com eles, servindo como uma via, um meio, um caminho entre o mundo astral e o mundo físico é que são, de fato, médiuns. A condição de mediunidade é causada por um aumento do fluxo dos chakras, que já é pré-concebido antes do nascimento, e que nos permite mediar uma realidade que outros se quer podem perceber.

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Psicopictografia ─ a faculdade de produzir desenhos mediúnicos (Fonte: Google Imagens)

A intuição, a vidência e a audiência podem não ser considerados um transe, pois não há uma alteração comportamental de fato. O transe acontece quando a manifestação mediúnica se processa de maneira mecânica e se atenua de acordo com a intensidade, como pode acontecer na incorporação, e na psicografia (escrita), na psicopictografia (desenhos e quadros), na psicohierografia (sinais sagrados) e na psicofonia (fala). Todas essas formas, entretanto, são linguagens por onde o médium pode processar a comunicação da entidade espiritual. Isso também depende, principalmente, da atuação da entidade sobre esse ponto positivo do médium, ou seja, não adianta só o médium ter esse mecanismo, é preciso que o espírito comunicante queira usá-lo.

Quando há um transe mediúnico, de fato, o espírito comunicante não “entra” no corpo do médium ou em parte dele, como se supõe. Essa é uma ideia que faz parte do imaginário popular. O que há, na verdade, durante o transe mediúnico, é um processo de simbiose entre a consciência do médium e a consciência da entidade. Esse processo acontece através de fluídos da entidade que são emanados e prendem-se – por afinidade – aos chakras do médium, que são centros da nossa consciência. Esse fato permite que a consciência da entidade atue junto à consciência do médium, de modo a tomar total ou parcialmente as funções motoras do mesmo.

Esqueça, portanto,  alguns absurdos que são ditos por ai como que, para incorporar, a entidade monta em seus médiuns, por isso os chamam de “cavalo” (nem literalmente, nem figurativamente!) [1]; ou que para a manifestação ser verdadeira o médium precisa ficar inconsciente; ou, ainda, que a Umbanda só aceita médiuns de incorporação e etc.. Declarações como essa só tiram a credibilidade de quem as declara. Diante da simplicidade e da manifestação de tão grandiosos espíritos, podemos apenas desejar sermos bons médiuns, para que eles sempre nos deem a bênção de suas importantes mensagens.

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[1] O porque de, na Umbanda, as entidades espirituais chamarem seus médiuns de cavalo é devido ao fato de que a Umbanda reúne traços de várias cultuas mundiais que se encontraram no Brasil, entres elas, a cultura de povos que habitam na região Congo-Angola, os chamados povos Bantu, que têm como dialeto o kibundo, o kikongo, o bakongo, o kioco, entre muitos outros. Há uma centena de dialetos parecidos, que traduzem a palavra cavalo ou kvalú como “grande amigo” ou “companheiro”. A palavra foi aportuguesada – como muitas outras desses mesmos dialetos – para denominar o animal que estava sempre em companhia do homem – o cavalo. É assim, realmente, que as entidades de Umbanda tratam seus médiuns, como seus amigos ou companheiros espirituais de longa data.

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