Como estar em paz consigo mesmo

Por Aralotum
Pode-se dizer que alcançar a paz é um objetivo legítimo para a maioria das pessoas. A paz mundial, a paz entre os povos, a paz entre as culturas, a paz entre os interesses mas, principalmente, a paz interior.

Aquele que almeja alcançar a paz é porque ainda não encontrou-a. Vive em conflito. E, às vezes, a paz é vista como um benefício no final de um caminho tortuoso, como um prêmio. E essa promessa de paz é que motiva a continuar no caminho reto.
É preciso, então, entender duas coisas: o que é ‘paz’ e o que é ‘consigo mesmo’? Essas são as perguntas mais importantes. Peço que meditem sobre isso.
A paz é interior, e só pode ser assim, porque ela não está fora, não está em um outro. Nem na cultura, nem na sociedade, nem em nenhum outro objeto que não nós mesmos.
A paz mora dentro de cada um de nós, não no sentido material, mas no sentido espiritual. Não está em nossos órgãos, mas está em nossa vivência e sabedoria.
Pode-se dizer, então, que o conflito é fruto de uma imaturidade. Uma imaturidade espiritual. O ser não teve a vivência necessária para adquirir sabedoria o suficiente para estar em paz consigo mesmo.
Essa imaturidade nos faz buscar a paz sempre no que está fora: na realização de um objetivo, na aquisição de um bem, em um novo relacionamento, em alguma atividade prazerosa (artística, esportiva, intelectual…), em atividades sexuais, entorpecentes, religiosas e etc..
Tantas são as atividades pelas quais as pessoas sentem-se em paz quantas são as pessoas no mundo. Na maioria das vezes, não passa da ilusão de um desejo fantasioso, ainda que tenha seus benefícios.
Por vezes, a atividade de uma pessoa entra em conflito com a de várias outras, tirando-lhes a paz. É porque o desejo é sempre dependente de um objeto para se satisfazer, é sempre dependente de um outro.
Esse desejo é, de certa forma, uma agressão egoísta, na medida em tolhe o desejo e a satisfação do outro em benefício próprio. Daí surgem as desigualdades, que geram violências correlatas.
Pode-se dizer, com isso, que todos os conflitos sociais e conflitos de interesse são ausências de paz interior. Assim como pode-se entender que não há solução para as desigualdades, as violências e os conflitos. Estamos sempre fadados a vagar em busca dessa paz, como um ideal inalcançável.
Mas isso só é verdade se nós não entendemos a nós mesmos. Pois, é a compreensão de si mesmo – e da consequente relação com o outro – que nos tira o sentido de buscar a paz em um objeto exterior. O autoconhecimento pacífica alma.
Os sábios são considerados figuras pacíficas porque estão em paz com eles mesmos, e estão em paz com eles mesmos porque são sábios. Não buscam mais a paz no fim do caminho, porque compreenderam que a paz é o caminho que conduz à própria paz.
A paz é, portanto, é a ciência do sábio. E conduzir as pessoas pelo caminho da paz, é o seu ofício.
Todos podem aprender a ciência da paz. Ainda que seja difícil a sua prática, podemos identificá-lá numa palavra muito importante que vive até hoje: a paz-ciência.
A paciência é a mãe do bom caráter. É somente apoiado nesses dois princípios que é possível alcançar a paz interior.
Motivado pela paciência e pelo bom caráter, a paz interior nos leva a fazer coisas que aqueles que buscam a paz no exterior jamais entenderiam. Coisas como se felicitar em beneficiar outras pessoas, em agir corretamente, em ser amigável, compassivo e compreensível. Tudo sem esperar reconhecimento ou qualquer coisa em troca.
Assim age aquele que conhece a si mesmo e deixou de buscar fora aquilo que só pode ser encontrado dentro.
Aqueles que buscam essa sabedoria e essa ciência da paz devem se unir aos homens sábios. Devem acompanhá-los em seus próprios caminhos, tomando-os como exemplo de retidão e bom caráter.
Assim como a sabedoria, a paciência demanda vivência. Ninguém se torna sábio ou paciente espontaneamente. É preciso aprender paciência, e só se pode aprender experimentando-a.

Deixe um comentário