O Esoterismo de Umbanda: A Lei Divina

Altar/Congá ─ Templo de Orishalá (Fonte: Google Imagens)
Por Aralotum

A Umbanda tem um esoterismo profundo em sua raiz trazido à tona por Matta e Silva (Me. Yapacani) à luz do conhecimento. Esse esoterismo guarda as chaves e os princípios básicos das forças que regem o Universo, pois nele a Umbanda não é um culto, nem um movimento, nem uma religião. Aumbhandhan é Lei Divina! E, como Lei Divina, só podemos compreendê-la como sendo uma codificação dos princípios que regem todas as relações existentes, criadas e incriadas [1].

No seu círculo interno e esotérico, a Umbanda transcende o limiar da forma, da aparência, da ritualística. Pois, sendo a regra (a Lei), é o mecanismo por onde se assenta a realização e a existência de todas coisas no nosso planeta. Por isso, é a síntese e o meio por onde converge todo o conhecimento humano.

Veja, então, que não existem várias Umbandas, como alguns mestres de iniciação defendem em seus textos e vídeos. Esta é uma constatação puramente conceitual e afirmar o contrário é extremamente contraditório e, portanto, inverídico. Quem defende a existência de várias Umbandas, colocando a Umbanda Esotérica como uma delas, se omite da observância dos princípios que formam a própria identidade da Umbanda Esotérica, que é a de ser a doutrina interna da Umbanda, e não um de seus segmentos. Colocam-na na periferia de todo o sistema. A Umbanda deixa de ser essência para se tornar forma, deixa de ser síntese para se tornar tese, deixa de ser todo para se tornar parte, deixa de ser Lei para se tornar religião.

Obviamente, não há desmerecimento pela prática religiosa, pois a Umbanda permite usar-se como religião, assim como permite usar-se como filosofia, ciência e arte. Porém, quem não consegue enxergar na Umbanda Esotérica mais do que um conjunto de determinadas práticas ritualísticas previamente formatadas, bom… não será disso que a Umbanda vai passar para essa pessoa. Mas quem vê na Umbanda um conjunto de Leis e Regras que codificam o Logos Divino e serve como ponto de convergência para os diversos saberes, conseguirá contemplar os vários mistérios divinos, naturais e humanos em mesmo sistema.

Dessa forma, não existem várias Umbandas, assim como não existe vários Conjuntos de Leis Divinas. A Lei Divina é uma só e é ela que rege todas as coisas. Esse é um fundamento básico da Umbanda Esotérica, o que não a torna nem melhor e nem pior do que qualquer outro sobrenome que se dê a Umbanda. Isso, porque, o Esoterismo não está na forma como se realiza o ritual, mas sim no entendimento secreto (interno/velado/ESOTÉRICO) dos símbolos pelo qual esse ritual está envolvido. Isso é o mais importante, pois torna a ritualização livre de preconceitos, pois está banhada em um profundo conhecimento oculto sobre as Leis que regem o Universo.

O esoterismo de Umbanda, portanto, nos ensina as chaves que ligam todo esse sistema de Leis e Regras. Esses ensinamentos são tão antigos quanto a própria humanidade. Da mesma forma, seus símbolos, de caráter universal, já estiveram presentes em todas as regiões do mundo e foram revelados na doutrina interna dessa antiga Ordem surgida no Brasil, chamada Aumbhandhan.

É dessa maneira que a Umbanda se apresenta como sistema de magia e forma de contato mediúnico. E é por isso, também, que a Umbanda Esotérica não forma apenas médiuns, forma médiuns-magistas, capazes de manipular as forças da natureza em prol do bem-maior. Seus ensinamentos são baseados numa Tradição (Cabala) muito antiga, de caráter ambivalente (solar-lunar), mas, predominantemente solar. Por isso, dizia-se, Umbanda Oriental, pois é a direção do Sol nascente e não porque, necessariamente, ela veio de terra orientais. É uma tradição espiritual.

A organização oferecida por esse sistema é aplicável a todas as coisas, praticamente, desde a política social (sinarquia) até operações magísticas sobre o destino e a vida individual e coletiva. Sociedades muito antigas da África, da Ásia, da Europa e das Américas organizaram-se em formatos desse sistema, trazendo, todas, em diferentes épocas da humanidade, conhecimentos semelhantes, porém adaptados à realidade étnica e cultural de cada época e de cada grupo.

Realmente, se pegares para ler o Popo Vuh, a Torah, o Zend Avesta, o Enuma Elish ou o Corpo Literário de Ifá, todos apresentarão estórias muito semelhantes, do ponto de vista simbólico e esotérico, sobre a cosmogênese e as forças que regem o Universo. Assim também é com outros ensinamentos de outras culturas que conservaram em determinadas épocas esse tipo de conhecimento.

Porém, a Umbanda, materialmente falando, é uma organização recente que foi surgida no Brasil, um país altamente miscigenado no que diz respeito as suas tradições, profundamente católico e cristão, altamente espiritista e regado de fundamentos perdidos há muito tempo em terras africanas e em nossas próprias terras brasileiras. Esse foi o solo fértil para que a Umbanda se desenvolvesse como uma religião popular e periférica, mas que esconde as chaves capazes que ligar os profundos conhecimentos de culturas, aparentemente distintas, presentes todo o globo. Por isso, na Umbanda, há os Santos Católicos, há os Orixás Africanos, há os Índios Caboclos, há o “Povo do Oriente”[2], todos convergindo, harmonicamente e de maneira pacífica, em prol do desenvolvimento humano.

Por ser uma organização recente e ter-se usado do aparato necessário e disponível para a revelação dos mistérios, os símbolos utilizados na Umbanda tem influências de várias culturas do mundo. Destacam-se, popularmente, a cultura católica, espírita kardecista e cultura nígero-congolesa (os cultos de nação africana), principalmente, pelas nomenclaturas, pelas ritualizações e pelo valor oculto e esotérico de seus símbolos.

Dessa maneira, o esoterismo de Umbanda evidencia-se por sua profunda capacidade em identificar os valores e os símbolos nessas diferentes culturas. Em uma sociedade tão pluralista, a crença, a fé e o tradicionalismo das pessoas não podem ser olvidados e é preciso encontrar a Verdade Espiritual por trás de cada símbolo, pois é através dele que vem o sagrado pelo qual a pessoa está envolvida, pois é o símbolo que dá significado à coisa em si.

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[1] Entenda por realidades incriadas o Espírito, o Vazio-Neutro e a Substância Etérica; são incriadas pois desde de todo sempre existiram, não tendo recebido forças, energias ou vibrações de quem quer que seja, elas são incriadas pois foi através delas que as outras realidades vieram ao mundo. As realidades criadas são, de fato, todas as coisas existentes, tudo aquilo que foi concretizado do Universo do Espírito para o Universo Astral e deste para Universo Físico e, portanto, se encaixa dentro da temporalidade.

[2] O que é popularmente chamado de Povo do Oriente é, na verdade, os espíritos guardiões da Tradição Solar; são os Mestres Astrais da Confraria dos Magos Brancos, que vem sob a ordem do Cristo Jesus ─ o Cristo Solar.

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