Biage-Ifá: Relações Elementares (2)

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(Fonte: Google Imagens)
Por Aralotum

O Biage é um sistema que dá sustentação e é a origem de todos os oráculos africanos que vieram para o Brasil. Destaca-se pela assertividade, segurança e fluidez com que transmite suas mensagens. O sistema é bem coeso, simples e seguro, mas também é bem complexo quando começamos a desbravar seus motivos de ser ou não ser e as relações que existem com outros métodos oraculares. E é impossível fazer isso sem esbarrarmos em suas relações elementares.

Assim, temos essas relações com as suas 5 caídas:

Aláfia – Éter
Otawa – Ar
Ejifé – Fogo
Okaransodé – Água
Oyeku – Terra

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(Fonte: Umbanda ─ A Proto-Síntese Cósmica)

A ordem dos elementos e das a caídas é essa porque é aquela que vai das características mais sutis às mais densas da magia elementar. É o próprio caminho da origem até a realização no mundo e o retorno à origem. Em uma comparação simplista, podemos dizer que essa ordem elementar representa o Ar que alimenta o Fogo, que aquece a Água que fertiliza a Terra. Mas, e o Éter?

O Eter é a “quintessencia”, é o próprio poder de transformação de si mesmo nos outros elementos, sendo assim, o que originou-os por si mesmo e para onde todos eles voltam para serem transformados novamente e cumprirem outro ciclo elementar. Tal como as divindades primordiais estão ligadas às causas/origens da existência, o Éter é a causa e a origem da própria realização, sendo assim, a causa e a origem de todos os elementos.

O Ar é o primeiro elemento a ser gerado a partir do Éter e representa, entre outras coisas, o Sopro Divino, ou seja, representa o início e a via por onde se desenvolve a existência. O Ar está caracterizado por “aquilo que vai em busca”. É o veículo da voz, do verbo, da palavra, ou seja, da vontade manifestada. Suas características são tal como as das divindades guerreiras, que lutam por suas conquistam e trabalham por subsistência. Entre essas divindades guerreiras, podemos caracterizar bem as qualidades de Oxossi ─ Senhor Primaz do Ar.

O Fogo é o segundo elemento gerado a partir do Éter e representa o poder de transformação que impulsiona a existência. O fogo é caracterizado por aquilo que transforma, pelo movimento, calor, ânimo. Os homens pré-históricos se reuniam ao redor do fogo em comunidade. Ele está, intimamente, ligado a Xangô ─ Senhor Primaz do Fogo, que representa a realeza, ou seja, a autoridade social que lidera as instituições. Daí as suas características no Biage-Ifá relacionadas com a justiça, o equilíbrio, a segundança, as intituições sociais.

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(Fonte: Umbanda ─ A Proto-Síntese Cósmica)

A Água é o terceiro elemento gerado a partir do Éter e representa o caminho de retorno à origem, que é caracterizado, principalmente, pelas águas do rio que corre em direção ao mar. E outro sentido, são as águas que levam. Suas características estão ligadas ao Orixá Ogum – Senhor Primaz da Água, mas, também ao conjunto de divindades femininas, chamadas Iya Agbas.

 

A Terra é o quarto e último elemento gerado a partir do Éter e representa Aquilo Que Conserva/Concretiza. É caracterizado, principalmente, pela ancestralidade, por isso está ligada a Yorimá/Obaluaê – Senhor Primaz da Terra, aos Eguns (espíritos desencarnados), a Ikú (a morte), as Ajés (as feiticeiras) e todas as divindades ligadas a terra.

Vale lembrar que os negros yorubás, de onde veio todo o sistema de Ifá para o Brasil, não tinham o céu como sinônimo de além ou local sagrado onde estavam seus ancestrais. Para eles, o além, ou Òrun, era no seio da Terra. Na aplicação prática da magia elementar, a Terra é o que fecha um ciclo e involui para começar outro. Na numerologia isso é explicado pela Tétraktys de Pitágoras e exemplificado pela fórmula 1+ 2+ 3 + 4 = 10 = 1, portanto, 4 = 1.

A Terra (Oyeku) não pode se transformar no Éter (Aláfia), porque ele é a origem, ele é o elemento 0 e nenhuma soma pode ter 0 como resultado.  A Terra, então, se funde com os outros elementos e dá início a um novo ciclo e assim por diante, o que é explicado nas seguintes fórmulas 4 x 4 = 16 = 7 = 1, da mesma forma que 16 x 16 = 256 = 13 = 4 =1.

Há muitas coisas que podem ser reveladas e explicadas pelos números. Basicamente, toda a tradição de Ifá se apoia em um sistema numérico cujos números-chaves são uma expressão da própria unidade (numérica e espiritual), ou seja, à partir do Biage, em quaisquer jogo oracular, a soma dos seus signos vai dar 1.

Diante do exposto não fica tão difícil estabelecer certas relações entre o Biage e outros sistemas oraculares que se apoiam na Cabala, provando haver uma síntese oracular, semelhante a uma mesma lei codificada em línguas diferentes. Essa Lei Espiritual ou Divina é resumida no número 1, a Unidade Existencial, o Espírito, o Todo, símbolo da Eterna Aliança.

O Tarô é composto por três conjuntos de cartas: 22 arcanos maiores (22 = 2 + 2 = 4 = 1), 16 cartas da corte (16 = 1 + 6 = 7 = 1) e 40 cartas numéricas (40 = 4 = 1).  O jogo de baralho comum é composto por 52 cartas (52 = 5 + 2 = 7 = 1). No I-Ching são 64 hexagramas (64 = 6 + 4 = 10 = 1). No jogo de runas são 25 peças (25 = 2 + 5 = 7 = 1). Qualquer sistema oracular sério é uma expressão da existência em sua totalidade, é uma expressão do Todo por completo.

Portanto, isso prova como o Biage é a base do sistema oracular de Ifá. E mostra, também, que todos os oráculos e sistemas divinatórios se comunicam entre si e que, com as chaves adequadas, é possível desvendar esses mistérios. O conhecimento ancestral trazido pela cultura africana ao Brasil, ainda que corrompido na prática, é extenso e muito profundo em essência. As religiões matriz africana ainda tem muito fundamento esotérico em suas práticas. Fundamentos que foram perdidos, escondidos, esquecidos, velados mas, principalmente, ainda hoje, são negligenciados pelo preconceito.

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