Notas sobre o Ayom (4) – O Símbolo Sonoro

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(Fonte: Google Imagens)
Por Me. Obashanan

A concepção de símbolo sonoro está presente em várias culturas antigas, narradas de forma semelhante. O símbolo sonoro pode ser desde uma grafia antiga onomatopaica até a nota musical de um instrumento que reflita e conte uma história ou um mito e que foi conservada por tradições de estudiosos e mestres em suas artes. O grande maestro Koelreutter, que em comentário feito sobre a “Chacone” de Bach, certa vez declarou: “A música transmite manifestações espirituais. A música é uma linguagem e, como linguagem ela é um meio de transmissão. Ela transmite alguma coisa: uma mensagem, uma informação, e assim por diante. Eu diria então que a música é uma linguagem que entre outras coisas, é capaz de transmitir manifestações espirituais.”

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Maestro Koelreutter (Fonte: Google Imagens)

Além dele, o grande baterista americano Gene Krupa, o criador de quase toda a ergometria do instrumento (Krupa chegou a estudar música africana, dança indiana e teorias interessantes sobre o movimento para definir a altura e a posição das peças da bateria), dizia: “A música é a única arte que consegue carregar a atmosfera com poder”.

Essas verdades ditas por dois músicos ocidentais encontram eco nas tradições africanas e orientais, que talvez sejam inspiradas em filosofias e verdades mais antigas. Um dos mitos de Ayan fala exatamente disso: a transmissão espiritual através da criação do tambor e da construção da linguagem do canto e da dança. Este mito define cada som retirado do tambor como um atributo a uma potestade espiritual. Assim, glissandos indicam chuva, bordas os trovôes etc, e suas combinações definem a ritualística, simbolizando todos os reinos da natureza e da inteligência como o tradutor do intraduzível: a linguagem divina para a linguagem mental e depois a corporal humana, a dança, para finalmente, todas estas linguagens se encontrarem na síntese do transe espiritual.

Abaixo, em vídeo, um excerto de nossa palestra no TEV – Templo da Estrela Verde, onde narramos um dos raros mitos de Ayan, citado pelo mestre africano Adeleke Sangoyoyin e a explicação de como ocorre, ritualisticamente, a produção de cada som dos tambores, e a expressão do poder de cada divindade através do ritmo apropriado.

 

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