O Esoterismo de Umbanda: A “Escola” Esotérica

Congá/Altar – Templo Morumbi (Fonte: Google Imagens)
Por Aralotum

A busca pelas verdades espirituais começa logo que adentramos ao templo de Umbanda, onde somos apresentados aos símbolos que compõe a identidade espiritual daquela casa. Isso, o que vemos no terreiro é o aspecto externo da Umbanda, exotérico, com toda a sua pluralidade de ritos existentes. Isso ocorre porque o ser humano é plural, multicultural; cada povo e cada coletividade humana tem suas próprias particularidades, cada ser humano tem sua própria capacidade de entendimento e a Umbanda tenta se aproximar de todas as consciências sem agredir essas particularidades, aceitando e compreendendo, pacificamente, as diferenças e abarcando todas as consciências na sua forma mais simples e profunda, como Espíritos que realmente são. É a Lei Divina se fazendo chegar aos corações dos mais diversos seres humanos na Terra.

Sob esse aspecto, todas as formas de culto umbandista são legítimas e isso faz da Umbanda a única, ou, uma das únicas formas de religiosidade em que é permitido às pessoas frequentarem vários espaços e templos diferentes, com ritualísticas diferentes, simbologias diferentes, entendimentos diferentes, mas sem que tenham que sair de dentro de um mesmo sistema, de um mesmo culto. Neste caso, até mesmo se colocarmos os rituais e os símbolos ditos como de Umbanda Esotérica e que seguem um mesmo formato aparente (dito “escola”), também é legítimo, porém, não deixará apenas de se apresentar como uma casca polida e vazia, como qualquer uma das formas de se fazer e entender a Umbanda.

Entretanto, o esoterismo na Umbanda não está na forma como se realiza o ritual. Pois, o esoterismo não é uma das várias roupagens da Umbanda ou uma das várias ditas “escolas”, pois estes são os aspectos externos, aparentes e, portanto, são passageiros, mutáveis e faz parte da verdade temporal que se aplica à necessidade de uma determinada época ou coletividade. O esoterismo, isso é, os aspectos internos, secretos, está no conhecimento sobre as Leis Universais da Natureza ─ as Leis Divinas ─ e que é adquirido durante as verdadeiras Iniciações nos Mistérios.

Essa é a parte que poucos conhecem, de tal modo que, para um Iniciado, a roupagem do ritual pouco importa, pois, ele compreende a essência do que está sendo feito e, dessa forma, consegue transitar com o devido respeito e segurança entre práticas ritualísticas diferentes. Mas isso não invalida ─ pelo contrário, corrobora para ─ que o Iniciado tome opinião ou esclareça sobre possíveis conexões e consequências decorrentes de práticas ritualísticas duvidosas. Mais do que isso, no devido direito, pode recomendar práticas ritualísticas saudáveis e seguras para quem a intensão e o interesse em seguir um caminho mais transparente e esclarecido sobre a espiritualidade umbandista. Foi o que Me. Yapacani fez durante toda a sua obra.

Por outro lado, o esoterismo tradicional entende que, em princípio, o conhecimento do Todo é um só, ou seja, é Uno. E, na Umbanda, essa unidade só é encontrada através dos ensinamentos ocultos (diga-se, esotéricos) presentes no culto e não em suas formas de apresentação (“escolas”). É claro que todos os terreiros, templos, tendas e choupanas têm, na sua ritualística interna seus awòs, erós e segredos, mas não quer dizer que esse conhecimento converge totalmente em direção à síntese. Talvez em parte, mas, na maioria das vezes, não passam de fragmentos desconexos e descontextualizados desse conhecimento esotérico que é antiquíssimo.

Desse modo, somente através da Umbanda Esotérica pode ser aberto uma gama de relações pelas quais tudo o que existe está conectado e organizado segundo a Vontade Divina. E é à partir dessas relações que se aprende a manipulação dos elementos, a magia, o cabalismo, as linguagens ocultas da natureza e dos homens. É nesse caminho que acontece a expansão da consciência e o desenvolvimento de suas faculdades psíquicas e mediúnicas, inerentes que cada ser humano possui, e que não se limitam apenas a vidência e a prática da incorporação.

Este conhecimento-uno fora fragmentado pelo ser humano, primeiramente, em quatro pilares, quais sejam: filosofia, ciência, arte e religião. E destas em várias outras fragmentações, visando o melhor estudo ou entendimento do ser humano sobre determinada área ou assunto. Essa gnose é encontrada em outras tradições do mundo e é expressada, claramente, na cabala, nos tantras, na religião tradicional yorubá e, agora, mais recentemente, na Umbanda Esotérica. A compreensão sobre toda essa sabedoria ocorre quando se encontra o “Fio de Ariadne” que faz a ligação entre todos esses conhecimentos, e este fio é transmitido durante as Iniciações nos Mistérios.

A transmissão desses conhecimentos e toda a regra pela qual ela está envolvida, acontece em consonância com a Lei Divina ─ o Logos Universal, ou, as Leis Universais da Natureza. A Umbanda consegue se valer do uso e da interpretação dos diversos símbolos existente, da forma mais coerente, para atender seus objetivos, que é levar a Luz Divina à humanidade. Deve-se atentar que: “a Luz que te ilumina é a mesma que te cega”, por isso, o sacerdote é um codificador da Lei Divina e não fonte da mesma. Ele traduz o conhecimento e traz a luz de forma gradativa para as pessoas, atendendo a capacidade de entendimento de cada um. Esse processo é feito valendo-se do uso de determinados símbolos aparentes, mas que traduzem relações universais.

Isso ocorre porque é quase impossível para o ser humano compreender pela racionalidade e ter fé [1] em algo abstrato, intangível. A abstração existencial ─ e aí, inclui-se, a vivência do Espírito ─ é algo que está além da capacidade sensorial humana e, por isso, é preciso símbolos que traduzam essas informações para nós. A busca pelo crescimento espiritual e pela evolução pessoal é despertada dentro de cada um através desses símbolos, que visam tornar inteligível algo abstrato, mesmo que de maneira inconsciente.

O símbolo, quando bem utilizado, traz a identificação de algo sagrado, superior ou, até mesmo, como um exemplo a ser seguido. E essa vontade de melhora e de crescimento é despertada através da sensibilização da alma, quando a consciência individual consegue identificar nos símbolos partes de sua própria Verdade Espiritual. Ao “tocar na alma”, o símbolo permite fazer essa ponte.

Portanto, o aspecto externo ou exotérico da Umbanda é uma poderosa ferramenta para despertar o desejo de melhora e crescimento ao fazer com que o ser humano se identifique com algo Superior e Sagrado dentro de si mesmo. O Iniciado, quando sério, responsável e bem instruído sabe se valer disso com maestria. Caso contrário, se vale disso para degenerar a própria tradição a fim de manipular e corromper as pessoas, pois, visa, tão somente, vantagens e poderes materiais, reconhecimentos e títulos. Embusteiros é o que são…

Por isso que, durante todo o processo de Iniciação, os estudos são aprofundados sobre diversas áreas do conhecimento humano, no caminho da convergência, pelo qual é encontrado a síntese de todo o conhecimento, que são as Leis Divinas. A iniciação na Umbanda Esotérica é assim, pois, o conhecimento geral precisa ser compreendido em sua parte mais essencial, sob a ótica de sua Verdade Espiritual expressa através dos símbolos, mas que acabou se tornando oculta e esotérica pela evidente incompreensão da maioria das pessoas.

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[1] A palavra Fé expressa o sentimento de Fidelidade, não a dissemos tentando prover a aceitação absoluta de princípios que são, aparentemente, ilógicos para algumas pessoas, mas sim, porque Fé evoca o sentimento de Fidelidade sobre aquilo que se acredita.

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